quinta-feira, 19 de março de 2009

A viagem de Lolita



Passos lentos e curtos, chamava tão baixo, eu só escutava porque gosto de música, qualquer timbre e eu...
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Jeitinho doce e cantado de falar, devia ser o sotaque; vai logo - pede pra entrar
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Um pouco mais encurvada, sem classificação, o peso do mundo lhe pesava mais um pouco?
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Compaixão
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Entregou um bilhete, segredos...
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Fui excluída da conversa, Quik gelado
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Saiu caladinha com dois lencinhos na mão, acho que chorou
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Sem querer, bateu o portão
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8 dias após, me aproximei da calçada
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folhas amarelas e flores dançando no chão,
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Alguém? Veio apenas o cão
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A casa estava cheia, ela não
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Maçaneta trabalhada, vaso antigo
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Silêncio, calafrio
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Um vácuo na imensidão
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Caixinhas decoradas, cortinas floridas e bordadas
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Paredes, papel de pão
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Como se cada parte falasse, como se cada vento sussurrasse
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Fuçando gavetas; um grampo, documentos, abotoaduras, chapéu, toquinha e edredon.
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Meu coração partido
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Abrigo, depressão
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Revistas, flanela, óculos quebrado
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Azulejo, lajota, ladrilho
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Xícaras, pratos, tampas sem panelas
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Travesseiro sem fronha
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Malas vazias, luzes queimadas
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Fiação sem ção, som sem on
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Eletricidade, televisão
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Um quadro na parede, dia tão ensolarado, texturas, refrões
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Agora este quarto parado, essa aspereza
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Nenhuma vela acesa, parafina derretida
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Gaiola vazia, carrinho sem feira
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Viagem, passagem
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Caio em contradição
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Lampejo e respiração dificil, tristeza no olhar
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Chorar,
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Por quê?
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Não é natural?
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Um cadáver sem funeral
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Pintura de Andrew Wyeth
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